quinta-feira, 15 de abril de 2010

Ganhar é [se] perder


É estranho, mas às vezes por mais que eu esteja objetivamente plena de tudo, ela vem: a sensação de perda. Não é medo de perder algo, é uma sensação clara de que eu perdi, eu só preciso pensar um pouco mais e verificar o que foi. Aí lá vou eu raciocinar. Será que isso tudo é só porque eu troquei de shampoo e meus cabelos estão caindo numa quantidade absurda, e incoscientemente [desculpa Freud] eu tô sentido falta de cada fio que se foi? Após pensar isso eu rio de mim mesma pelo pensamento insano e me digo: "não seja estúpida, se tem um único pecado que não comete, é o da vaidade, jamais se sentiria down por algo assim." É, eu tenho razão.

Numa nova tentativa, agora mais realista, eu me pergunto se então isso não tem a ver com meu emprego perdido há pouco. Mas antes de concluir esse pensamento, eu me lembro que as coisas reais que acontecem quase nunca me fazem ficar remoendo o acontecido, essa sensação certamente tem a ver com meu mundinho interno esquisito, estranho até pra mim. Mas como eu sou chata, não basta sentir e esperar que passe. Eu tenho que me questionar por quê, e mesmo que seja coisa da minha cabeça, eu vou me matar tentando descobrir até constatar isso. Complicado, não?

Então eu começo a pensar a fundo, e chego na minha atividade favorita. Filosofar. Bom, eu diria que o que eu faço está mais pra viajar mesmo, e acabar distorcendo a realidade e me machucando no final, mas como a gente adora mentir pra si mesmo, ou simplesmente usar palavras bonitinhas pra o que é deprimente, me deixa, tá? Mas como eu ia dizendo, eu chego à conclusão de que a tal sensação de perda deve estar totalmente veinculada à antiga mania de não conceber a idéia de que eu posso ser feliz. Tá confuso? Eu me explico. Vinte anos eu dizendo a mim mesma que somos animais tristes e não seres loucos e apaixonados, e aí vem a vida e me tira essa certeza, esfregando bem na minha cara que eu sou feliz, sim. E aí eu não aceito, e é como se eu estivesse me traindo, perdendo meu eu sofredor. Não que eu quisesse esse tal eu, mas foi o que me foi dado. Eu sei que você talvez nem queria terminar de ler por estar indignado, achando que eu deveria levantar as maõs aos céus se minha vida mudou, mas você não sabe o que é voltar a caminhar depois de ter se acostumado a andar de muletas, sabe? Eu sinto que perco, enquanto só ganho. Caio Fernando me entenderia, ele mesmo disse "Dane-se, comigo sempre foi tudo ao contrário mesmo!",e eu faço das palavras dele as minhas, sempre.

A mim, eu deixo o comentário: "Quem diria que ganhar seria tão difícil, hein?" E a você... Bom, a você a certeza de que existem almas atormentadas no mundo. E isso não é novidade. Mas mesmo na felicidade? Pois é.