domingo, 7 de março de 2010

A saga




Alguém me explica como a imagem de uma pessoa que você nunca viu mais gorda antes, subindo escadas de uma rodoviária qualquer desse mundo, pode simplesmente não sair mais da sua cabeça há meses? Alguém me explica ainda, como uma criatura de ressaca da balada, com a garganta ardendo da tequila que tomou lá no começo da noite, sentindo um calor irritante, pode acordar e ir correndo abrir o seu blog pra falar da rodoviária desconhecida, com uma pessoa mais desconhecida ainda? Atente-se ao fato, de que tudo isto está sendo feito ao som de músicas assim, muito ruins. Não citarei nomes pra não constranger a mim mesma, mas fazer o quê se as letras são melosas, retratam meu estado de espírito e me fazem suportar o instrumental e a voz horrível com um sotaque carregado mais horrível ainda? Enfim...

Por mais que seja tentador, e eu queira falar de todos os momentos doces que tenho vivido ultimamente, com todos os detalhes, ressaltando os dois personagens principais, relatando fidedignamente suas falas, suas expressões, passando inúmeras linhas na tentativa de transmitir o que fora sentido, e ah, como foram sentidas emoções diversas e combinadas... Mas não, vou me segurar, e falar um pouco da minha saga pra chegar até a rodoviária-dos-meus-sonhos-encantados, até então, não-conhecida.

Já me apaixonei por alguém, que durante todo o processo, me fez parecer uma idiota em peso. Sabe quando você, pela primeira vez na vida, sai da sua condição tão amada de pessoa fria e se declara pra uma pessoa? E sabe também quando depois disso ela te olha e diz: "Sinto muito, mas eu não quero nada sério com você."? É, o pior é depois disso você continuar a historinha fracassada, com uma paixão doendo pesada peito adentro, dando desculpinhas a si mesmo do tipo: "Ah, eu consigo manter o rolo sem me apegar mais, e sem esperar que ele se apaixone por mim também..." Como é, minha filha? O seu "se apegar mais" significa o quê? Fazer greve de fome porque ele não te ama, sair gritando na Av. Paulista que você sofre de um amor não correspondido, e loucuras do tipo? Sim, porque chorando magrugadas a fio, lendo Álvares de Azevedo e Florbela Espanca você já está... Sem contar a trilha sonora, Radiohead, principalmene a música que diz "eu só queria ter sido especial". Em vista de tudo isso, será que o cara que te fez parecer idiota, ou você mesmo se idiotizou desde o início? Evidências não faltaram pra dizer que o caminho seria de tristeza e solidão... Talvez eu quis pagar pra ver o que Caio disse, que "As pessoas suportam tudo, as pessoas às vezes procuram exatamente o que será capaz de doer ainda mais fundo, o verso justo, a música perfeita, o filme exato, punhaladas revirando um talho quase fechado, cada palavra, cada acorde, cada cena, até a dor esgotar-se autofágica, consumida em si mesma, transformada em outra coisa que não saberia dizer qual era."

Eu só não sei se isso é pior do que levar um pé duas vezes de um mesmo namorado. É, aquele namorado certinho, que mamãe adora, papai quer fazer o casamento, e você acha o mais fofo do mundo, ainda mais quando ele dizia que sempre te achou o máximo, mas não tinha coragem de se aproximar porque se via inferior. Quem diria que um tipinho desses pudesse ser tão frio-e-sem-sentimentos, e te deixar um baita vazio, do qual você acreditou que nem conseguiria se recuperar, tamanho o choque que causou. Agora, pasme com o motivo do término: eu mudei. Sim, acredita que em cerca de dois meses eu consegui me transformar do objeto amado, numa bruxa castradora, capaz de remover automaticamente todo o gigante amor do coração do pobre rapaz, assim, do nada? Foi o pra sempre mais curto de toda minha história de vida.

Mas eu também aprontei com alguns pobres rapazes, e agora sem ironia. Já troquei pessoas como quem troca uma roupa que não aguenta mais usar, de tanto que enjoou, mesmo depois de todos os benefícios que ela te trouxe, como te fazer sentir bem usando-a, ou te protegendo do frio. Eu já disse que gostava muito sem gostar, só pra ter a garantia de ter alguém que me admirava perto, pra momentos depois dizer que não queria mais ve-lô. Eu já disse pra um amigo importante que se apaixonou, que eu não iria namorar com ele, e que se ele insistisse eu seria obrigada a terminar a amizade, assim, na maior falta de jeito do mundo, com quem diz que não vai ao cinema porque o filme é chato. Eu já enjoei de uma pessoa, terminei o namoro, e ainda o fiz se sentir culpado, tudo com jogo de palavras. Bom, não pense que é legal e agradável falar sobre essas coisas, nem que eu não me arrependo ou me envergonho de tê-las feito, mas esses erros se tornaram essenciais pra eu me constituir uma pessoa diferente, bem como o que fizeram de ruim comigo... São tudo intrínsecas, tudo faz parte da minha saga.

Agora, não sei se depois de todo esse baque de realidade, você ainda tem cabeça pra lembrar da minha rodoviária encantada. Mas eu lembro pra você, acrescentando alguns detalhes. É necessário dizer ainda, que eu já tinha perdido as esperanças de encontrar um amor como eu sonhei, e mais ainda de oferecer pra alguém, visto meu estado de frangalhos, e minha síndrome de Clarice Lispector, me perdendo cada vez mais no mundinho feio e sem cor que eu criei, me tornando uma pessoa viciada em solidão. Pois bem, acontece que numa madrugada, depois de ter viajado seis horas, sentindo todos os graus de frio na barriga que se possa imaginar, eu vi a primeira cena que mudou o sentido da minha vida radicalmente: um rapaz desconhecido, subindo as escadas de uma rodoviária também desconhecida, vindo até mim. Ele sorriu pra mim, recebeu um sorriso tímido e sem graça de volta, me beijou o rosto, me abraçou e disse: "Eu não acredito que você veio mesmo." Nem eu acreditava que estava ali, se ele soubesse a vontade de voltar no meio do caminho, o medo que me deu de ser mais uma loucura insensata que eu sou expert em cometer, a insegurança, o pensamento de que eu era tão sem qualidades que não conseguiria fazer daquele primeiro contato uma coisa boa... Mas é, que vida louca e surpreendente, não?! O que eu posso dizer é que a rodoviária é hoje, encantada pra mim, o primeiro local do meu conto de fadas, que me trouxe um príncipe cheio de defeitos, apesar do seu cavalo branco ofuscar a todos. As incompatibilidades de estilo de vida são inúmeras, não nego. O grau de aceitação das famílias e amigos, não é suficiente ainda, não nego também. Mas se tem um trecho de música que nunca dedicarão a mim, será o da música do Cazuza, que diz: "Agora eu vou cantar pros miseráveis (...) Pra quem não sabe amar, fica esperando alguém que caiba no seu sonho..." Afinal, se com todos esses baques da vida, feitos e recebidos, eu não tivesse aprendido a amar ainda, é porque eu provavelmente nasci fada à burrice. O meu sonho é real, meu amor é real, o meu príncipe é real, tudo que nos aconteceu nesses meses tão intensos foi real, e se é assim, a certeza de um futuro promissor pra nós também é real na minha cabeça, no meu coração, e porque não dizer na minha alma, já que a intensidade de um amor tão grande assim me parece não caber simplesmente no meu corpo?

Pra concluir, sem intenções nenhuma de fornecer uma lição de auto-ajuda, quero dizer a quem me lê que não importa o tipo de fase que você está atravessando na sua saga neste momento, se é triste, se dói muito, se está morna, se você está esperando algo que não acontece nunca, ou se do contrário espera algo acabar, tudo é necessário, e fará todo o sentido do mundo depois, quando você puder compreender. Principalmente se tratando de vida afetiva, ô campinho complicado de se lidar. Se as pessoas viessem com manuais de instrução, seria bem mais cômodo, ou não; uma vez que somos seres humanos e preferimos na maioria das vezes o caminho mais difícil, quebrar a cara, e aquela coisa toda. E quer saber, pensa aí você, o que seria da vida sem isso?

sexta-feira, 5 de março de 2010

Tudo novo de novo





Primeira postagem, e eu me pergunto, o que é que eu vim fazer aqui mesmo? Principalmente depois de ler incessantemente blogs interessantíssimos de pessoas conhecidas pra me fazer desistir da idéia. Eu não sei o que eu pretendo ainda, mas me senti incomodada ultimamente, com uma vontade bem imensa de escrever, apesar de não saber como começar, o que dizer, por que dizer, como dizer, nem ao menos um tema eu tenho. Geralmente as pessoas optam por falar de si, visto a facilidade, e pra gerar eventuais encantamentos em outrem (porque grande parte do que dizem, é seu ideal de "quem sou eu", não o que são de verdade, fatão). Mas na boa? Odeio falar de mim, tenho uma dificuldade fora do comum. Prefiro me reconhecer em músicas, em filmes, em livros, numa frase, ou em outra pessoa. Agora, eu posso me reconhecer em mim mesma, olha que beleza! Ou não... Mas pulemos essa parte.

O ano que eu mais teria coisas a escrever/filosofar/repensar foi o de 2009. Um ano bem contraditório - no sentido de, ao mesmo tempo que eu ia pra frente em algumas questões, regredia em outras - e intenso. Exigiu muito de mim, inclusive e principalmente, coragem... Ah, sim, muita coragem, pra assumir a grande responsabilidade, de uma grande escolha, da qual sofro consequências até hoje. Eu sei que tá tudo um tanto quanto obscuro, tô querendo dizer um monte, sem dizer nada, mas assim é que é bom, ao menos angústia nos amigos que me lêem eu vou causar. Oi?

Pra fechar aqui, até porque pra quem não sabia como começar, até que eu já escrevi bastante, eu só quero poder escrever, escrever, escrever... Sem pretensões, sem esperar nada em troca, nem que alguém me procure no orkut ou msn pra dizer que gostou, até porque não tenho o dom da coisa. Entendido? Certo. Como diria Caio Fernando (sim, meu querido, minha querida, pode ir se acostumando com minhas citações do meu honradíssimo CFA, serão muitas, e não brinco), "(...)escrever é enfiar um dedo na garganta. Depois, claro, você peneira essa gosma, amolda-a, transforma. Pode sair até uma flor. Mas o momento decisivo é o dedo na garganta." É isso mesmo, não estou preocupada em que bicho (flor pra mim já é demais) vai dar isso aqui, mas o dedo já está mais que pronto. E tenho dito.