quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Aos caminhos, entrego nosso encontro





Não podia falar. E era por não poder falar que ela se refugiava em meio aos seus pensamentos, carregados de luto. Queria ser mais tranquila, mais amena, assim como a imagem que passava aos que com ela se deparavam. Mas não podia. Sua intensidade obrigava-a a deixa-la sair na forma dos mais diversos sentimentos que existiam em seu interior. Alguns até desconhecidos, lhe deixavam pasma, lhe surpreendiam. Era um ponto de interrogação para si mesma.

Não conseguia entender. Sempre prezou a independência, a pose de mulher-madura-com-lado-afetivo-equilibrado. E o que aconteceu que a fez mudar tanto? Como pôde trair a si mesma, à sua essência, às coisas que tanto lhe agradavam, e que agora mais pareciam fazer parte de um passado que ela mal reconhecia como seu? Tantas perguntas, e nenhuma resposta, eco, saída, luz no fim do túnel. O túnel não acabava mais.

Voltava aos pensamentos carregados de luto. Queria tanto ter dito a ele sobre a sua mudança. Nunca ligou para a opinião de ninguém, mas queria tanto que ele tivesse acreditado, ficado feliz, abertos os braços e dito: vem. Vem que eu te acolho. Vem que eu preciso disso também. Vem que eu estou tão nessa como você. Vem que todas as células do meu corpo chamam pelas suas.

Tudo foi em vão, pensava. Ele nunca soube do seu poder sobre ela, nem ao menos desconfiou, e se não rolou, não vai rolar mais. E é exatamente essa a hora de disseminar o ditado quem em nada acalma, mas que é o que nos resta a fazer: 'não era pra ser'. Oquêi. Amém.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Quando a tua mão não cabe mais na minha luva





E quando você se dá conta de que o que sente não é mais suficiente? Começa assim. Você conhece uma pessoa, faz de tudo por ela, promete o mundo, e em volta, na mesma medida, você ganha aquelas coisas. Ah, os começos são tão lindos... E aí te invade aquela sensação: dessa vez eu sei, não importa quantos tombos eu levei, dessa vez não acaba, agora é pra sempre. E assim você vai seguindo com aquele peso bom da eternidade em cima dos seus ombros. E todos os sacrifícios que você realiza por outra pessoa, não são vistos assim, pelo contrário, são um prazer: há um prazer em toda entrega que julgamos valer a pena.

O amor que você sente é o seu maior herói. Te salvou da solidão, te livrou de todo os males, e com ele você acredita que vai até o fim, pois não importa o que aconteça, ele supre todas as coisas. Visualizar a figura amada é um bálsamo, todos os problemas socias do mundo todo, e até mesmo os seus, desaparecem completamente. Clichê? Em certos momentos nos tornamos mais clichês que o próprio amor. Mas retorno a minha pergunta inicial, e quando você se dá conta de que o que sente não é mais suficiente?

Todos os dias, não se vive mais o sentimento que você demorou tanto pra encontrar. O seu herói não salva mais nem a si mesmo. Ele não se basta. Vou terminar esse post de modo esquizofrênico, sem dar a resposta nem a mim, muito menos tentar chegar à uma conslusão para você. Pensemos.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

A nostalgia que acalma


Será que isso é a idade? De repente, não mais que de repente, eu me vejo a pessoa mais sentimental do mundo todo. E isso me dá um sentimento de grandeza tão grande. Eu chorei descontroladamente a tarde toda pensando na minha infância e na pessoa mais significatica pra mim nessa fase, e que com certeza, por mais que estejamos afastadas em presença, em todos os momentos bons, e em todos os ruins, eu penso nela. Esse post tem a possibilidade enorme de não ficar bom, eu tô escrevendo sem pensar, eu só quero eternizar aqui em palavras a falta que você me faz, irmã.

Eu lembro como se fosse hoje o dia em que eu fui embora de vez de perto de você. Eu era uma criança de nove anos que quase morreu de depressão e ciúme por um dia inteiro, na véspera da minha partida. Você, ao invés de ficar comigo, passou o dia todo na casa da sua amiga, com outras amigas, e nem fez questão de esconder de mim. E eu acabei estragando a surpresa de vocês, que na verdade se juntaram pra fazer um monte de cartõezinhos, cartinhas, bilhetes e outras coisas pra se despedir de mim. Eu dou risada quando lembro disso, mas não hoje. Hoje essa é uma lembrança triste. E eu, que nunca fui tão nostalgica até essa parte da minha vida, ainda guardo tudo o que vocês me deram aquele dia.

E desde então nossas despedidas tem doído tanto, minha irmã. A lembrança de você me abraçando no aeroporto, me dizendo o quanto ia sentir minha falta, chorando, e me fazendo chorar também não sai da minha cabeça. Quando eu tô perto de você eu sinto aqueles frios na barriga de felicidade que você só sente quando tá muito feliz, sabe? E quando a gente se separa, fica aquela coisa estranha, como se fôssemos irmãs siamesas que passaram por uma cirurgia e tivessem que aprender a conviver independentemente uma da outra.

Como esquecer também todas as nossas brigas tão importantes? Eu ficava puta porque nunca consegui ganhar de você em jogo nenhum em toda a minha vida. Eu ficava puta quando tava chovendo e você ia tomar banho de chuva. Minha mãe não deixava eu ir, e eu te pedia pra ficar, e você não ficava nem a pau. E eu ficava com aquela sensação de 'caralho, que falta de consideração. Ela preferiu ir tomar banho na chuva do que ficar brincando comigo.' Tá, agora eu ri por lembrar disso. E depois, quando ficamos maiores, passei a ficar puta por você sempre querer ser a dona de verdade e ter razão em tudo. Mas hoje, do mesmo jeito que eu admito nunca ganhei de você em nenhum jogo, eu percebo: sim, você sempre teve razão em tudo. E ainda assim, sempre ficou do meu lado. Sempre justa. Sempre forte. E apesar de termos apenas cerca de um ano de diferença, ah, como eu quero ser igual a você quando eu 'crescer'. Eu só disse isso uma vez na vida, e repito com você: te ter na minha vida é a maior prova que Deus existe. É tão lindo saber que eu te conheço desde que era um bebê. Tudo que vivemos jamais se apaga da minha memória, mesmo com o tempo passando tão veloz. Até das nossas discussões eu lembro com carinho. Lembro de quando minha avó ficou uma fera porque eu não queria mais estudar no colégio particular, só pra estudar com você. E depois vieram as nossas peças de teatro juntas e um monte de coisa legal que vivi contigo nessa época. Se eu for falar de tudo que eu tenho vontade agora, nem você aguentaria ler. Quem sabe um livro futuramente?

Como disse Chico Xavier em um de seus textos, se eu morrer antes de você eu não vou estranhar o céu, porque ser sua irmã, já é um pedaço dele. As coisas realmente seriam mais fáceis pra mim se eu tivesse você por perto. Se as pessoas só pudessem ver o que eu sinto por você há vinte anos, todas iriam acreditar em amor eterno. Independente do laço de sangue que nos une, um laço invisívei maior faz dessa nossa relação a perfeição em si. Você é o meu maior referencial. Não preciso nem dizer que eu admiro você absurdamente.

Eu te amo, minha prima-irmã. Irmã. E seria até redundante dizer que é pra sempre.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Por entre os dedos da minha mão passaram certezas e dúvidas




Pensei e senti tantas coisas que gostaria de escrever nesse tempo que fiquei sem postar... Mas alguns motivos, uns importantes, outros nem, como a preguiça, não me permitiram. Confesso que eu tinha quase certeza de que da próxima vez que postasse, eu iria falar sobre algo bem meloso e feliz. Algo que fizesse você pensar que eu sou normal, que minha vida não é essa completa merda que parece. Mas a verdade, sem confirmar nem desmentir que minha vida cheira mal, é que a gente se sente mesmo pressionado a escrever quando parece que uma mão invisível [somente aos olhos] está se fechando em volta daquele músculo, o coração, que nem ao menos é onde ficam as emoções. Mas como é poético, e isso não é um blog de fisiologia, fica assim. Sim, tem uma mão aqui agora no meu coração, apertando, vez ou outra ela coloca o dedo bem na cicatriz que está querendo abrir, só pra doer mais.

Sabe que a maior parte da minha vida eu achei que era equilibrada? Ah, você nem me conhece mas deve estar desconfiando disso, se leu meus posts anteriores. Mas é, sim. Talvez eu ainda seja em algumas coisas [tá que eu estou aqui agora me matando pra descobrir em quais], mas desde que eu coloquei na cabeça que eu tenho um amor maior que a mim mesma, eu dei pra ser cabeça de vento [se isso soar meio gíria idosa, desculpa a titia aqui]. Eu dei pra ser intensa. Um indivíduo profundo. Mas não daqueles que se dizem profundos, mas profundos mesmo. Entende? Eu tomei um partido absurdo pelo que eu sinto. Tanto que eu cheguei à conclusão de que vou com isso até o fim, ou vou ficar sozinha até o fim. E o fim, é o fim. Dessa vida, das outras.

Sabe que eu me acho patética por isso? Afinal, dizer 'pra sempre' não é patético demais, meus caros? Tem coisa mais clichê que 'pra sempre'? Tem coisa mais mentirosa que 'pra sempre'? Quem garante o 'pra sempre'? Você garante? E o que faz uma pessoa ciente disso dizer o maldito 'pra sempre'? Eu tenho todos os motivos internos do mundo pra dizer isso, e todos os externos me dizendo que isso é balela. Faço o quê? Choro.

É certeza, é a duvida dentro da certeza, como se fosse possível. É vontade de viver, é vontade de explodir tudo, assim, em sequência. É paz interior, é caos no segundo seguinte. É mentir com sorriso, é chorar com verdade. É acreditar com convicção, é perder a fé em instantes. É se agarrar em lembranças, é querer não pensar em nada. É querer ficar lúcida, é querer tomar um porre. E no fim de tudo é querer amar, é querer pra sempre. É assim.

E quanto a ser patética por isso? Talvez mais patético seja não viver o também clichê de tratar cada dia como se fosse o último. Talvez seja ter vergonha de falar dos sentimentos exagerados. Talvez seja se esfriar, se esfriar, se esfriar até se render à monotonia de uma vida tranquila sem surpresas ruins, nem boas, nem. Talvez seja se conter, se conter, se conter, até esquecer do que é capaz de fazer e de falar.

E aqui fica registrada apenas mais uma de amor perturbado para quem quer paz.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Ganhar é [se] perder


É estranho, mas às vezes por mais que eu esteja objetivamente plena de tudo, ela vem: a sensação de perda. Não é medo de perder algo, é uma sensação clara de que eu perdi, eu só preciso pensar um pouco mais e verificar o que foi. Aí lá vou eu raciocinar. Será que isso tudo é só porque eu troquei de shampoo e meus cabelos estão caindo numa quantidade absurda, e incoscientemente [desculpa Freud] eu tô sentido falta de cada fio que se foi? Após pensar isso eu rio de mim mesma pelo pensamento insano e me digo: "não seja estúpida, se tem um único pecado que não comete, é o da vaidade, jamais se sentiria down por algo assim." É, eu tenho razão.

Numa nova tentativa, agora mais realista, eu me pergunto se então isso não tem a ver com meu emprego perdido há pouco. Mas antes de concluir esse pensamento, eu me lembro que as coisas reais que acontecem quase nunca me fazem ficar remoendo o acontecido, essa sensação certamente tem a ver com meu mundinho interno esquisito, estranho até pra mim. Mas como eu sou chata, não basta sentir e esperar que passe. Eu tenho que me questionar por quê, e mesmo que seja coisa da minha cabeça, eu vou me matar tentando descobrir até constatar isso. Complicado, não?

Então eu começo a pensar a fundo, e chego na minha atividade favorita. Filosofar. Bom, eu diria que o que eu faço está mais pra viajar mesmo, e acabar distorcendo a realidade e me machucando no final, mas como a gente adora mentir pra si mesmo, ou simplesmente usar palavras bonitinhas pra o que é deprimente, me deixa, tá? Mas como eu ia dizendo, eu chego à conclusão de que a tal sensação de perda deve estar totalmente veinculada à antiga mania de não conceber a idéia de que eu posso ser feliz. Tá confuso? Eu me explico. Vinte anos eu dizendo a mim mesma que somos animais tristes e não seres loucos e apaixonados, e aí vem a vida e me tira essa certeza, esfregando bem na minha cara que eu sou feliz, sim. E aí eu não aceito, e é como se eu estivesse me traindo, perdendo meu eu sofredor. Não que eu quisesse esse tal eu, mas foi o que me foi dado. Eu sei que você talvez nem queria terminar de ler por estar indignado, achando que eu deveria levantar as maõs aos céus se minha vida mudou, mas você não sabe o que é voltar a caminhar depois de ter se acostumado a andar de muletas, sabe? Eu sinto que perco, enquanto só ganho. Caio Fernando me entenderia, ele mesmo disse "Dane-se, comigo sempre foi tudo ao contrário mesmo!",e eu faço das palavras dele as minhas, sempre.

A mim, eu deixo o comentário: "Quem diria que ganhar seria tão difícil, hein?" E a você... Bom, a você a certeza de que existem almas atormentadas no mundo. E isso não é novidade. Mas mesmo na felicidade? Pois é.

domingo, 7 de março de 2010

A saga




Alguém me explica como a imagem de uma pessoa que você nunca viu mais gorda antes, subindo escadas de uma rodoviária qualquer desse mundo, pode simplesmente não sair mais da sua cabeça há meses? Alguém me explica ainda, como uma criatura de ressaca da balada, com a garganta ardendo da tequila que tomou lá no começo da noite, sentindo um calor irritante, pode acordar e ir correndo abrir o seu blog pra falar da rodoviária desconhecida, com uma pessoa mais desconhecida ainda? Atente-se ao fato, de que tudo isto está sendo feito ao som de músicas assim, muito ruins. Não citarei nomes pra não constranger a mim mesma, mas fazer o quê se as letras são melosas, retratam meu estado de espírito e me fazem suportar o instrumental e a voz horrível com um sotaque carregado mais horrível ainda? Enfim...

Por mais que seja tentador, e eu queira falar de todos os momentos doces que tenho vivido ultimamente, com todos os detalhes, ressaltando os dois personagens principais, relatando fidedignamente suas falas, suas expressões, passando inúmeras linhas na tentativa de transmitir o que fora sentido, e ah, como foram sentidas emoções diversas e combinadas... Mas não, vou me segurar, e falar um pouco da minha saga pra chegar até a rodoviária-dos-meus-sonhos-encantados, até então, não-conhecida.

Já me apaixonei por alguém, que durante todo o processo, me fez parecer uma idiota em peso. Sabe quando você, pela primeira vez na vida, sai da sua condição tão amada de pessoa fria e se declara pra uma pessoa? E sabe também quando depois disso ela te olha e diz: "Sinto muito, mas eu não quero nada sério com você."? É, o pior é depois disso você continuar a historinha fracassada, com uma paixão doendo pesada peito adentro, dando desculpinhas a si mesmo do tipo: "Ah, eu consigo manter o rolo sem me apegar mais, e sem esperar que ele se apaixone por mim também..." Como é, minha filha? O seu "se apegar mais" significa o quê? Fazer greve de fome porque ele não te ama, sair gritando na Av. Paulista que você sofre de um amor não correspondido, e loucuras do tipo? Sim, porque chorando magrugadas a fio, lendo Álvares de Azevedo e Florbela Espanca você já está... Sem contar a trilha sonora, Radiohead, principalmene a música que diz "eu só queria ter sido especial". Em vista de tudo isso, será que o cara que te fez parecer idiota, ou você mesmo se idiotizou desde o início? Evidências não faltaram pra dizer que o caminho seria de tristeza e solidão... Talvez eu quis pagar pra ver o que Caio disse, que "As pessoas suportam tudo, as pessoas às vezes procuram exatamente o que será capaz de doer ainda mais fundo, o verso justo, a música perfeita, o filme exato, punhaladas revirando um talho quase fechado, cada palavra, cada acorde, cada cena, até a dor esgotar-se autofágica, consumida em si mesma, transformada em outra coisa que não saberia dizer qual era."

Eu só não sei se isso é pior do que levar um pé duas vezes de um mesmo namorado. É, aquele namorado certinho, que mamãe adora, papai quer fazer o casamento, e você acha o mais fofo do mundo, ainda mais quando ele dizia que sempre te achou o máximo, mas não tinha coragem de se aproximar porque se via inferior. Quem diria que um tipinho desses pudesse ser tão frio-e-sem-sentimentos, e te deixar um baita vazio, do qual você acreditou que nem conseguiria se recuperar, tamanho o choque que causou. Agora, pasme com o motivo do término: eu mudei. Sim, acredita que em cerca de dois meses eu consegui me transformar do objeto amado, numa bruxa castradora, capaz de remover automaticamente todo o gigante amor do coração do pobre rapaz, assim, do nada? Foi o pra sempre mais curto de toda minha história de vida.

Mas eu também aprontei com alguns pobres rapazes, e agora sem ironia. Já troquei pessoas como quem troca uma roupa que não aguenta mais usar, de tanto que enjoou, mesmo depois de todos os benefícios que ela te trouxe, como te fazer sentir bem usando-a, ou te protegendo do frio. Eu já disse que gostava muito sem gostar, só pra ter a garantia de ter alguém que me admirava perto, pra momentos depois dizer que não queria mais ve-lô. Eu já disse pra um amigo importante que se apaixonou, que eu não iria namorar com ele, e que se ele insistisse eu seria obrigada a terminar a amizade, assim, na maior falta de jeito do mundo, com quem diz que não vai ao cinema porque o filme é chato. Eu já enjoei de uma pessoa, terminei o namoro, e ainda o fiz se sentir culpado, tudo com jogo de palavras. Bom, não pense que é legal e agradável falar sobre essas coisas, nem que eu não me arrependo ou me envergonho de tê-las feito, mas esses erros se tornaram essenciais pra eu me constituir uma pessoa diferente, bem como o que fizeram de ruim comigo... São tudo intrínsecas, tudo faz parte da minha saga.

Agora, não sei se depois de todo esse baque de realidade, você ainda tem cabeça pra lembrar da minha rodoviária encantada. Mas eu lembro pra você, acrescentando alguns detalhes. É necessário dizer ainda, que eu já tinha perdido as esperanças de encontrar um amor como eu sonhei, e mais ainda de oferecer pra alguém, visto meu estado de frangalhos, e minha síndrome de Clarice Lispector, me perdendo cada vez mais no mundinho feio e sem cor que eu criei, me tornando uma pessoa viciada em solidão. Pois bem, acontece que numa madrugada, depois de ter viajado seis horas, sentindo todos os graus de frio na barriga que se possa imaginar, eu vi a primeira cena que mudou o sentido da minha vida radicalmente: um rapaz desconhecido, subindo as escadas de uma rodoviária também desconhecida, vindo até mim. Ele sorriu pra mim, recebeu um sorriso tímido e sem graça de volta, me beijou o rosto, me abraçou e disse: "Eu não acredito que você veio mesmo." Nem eu acreditava que estava ali, se ele soubesse a vontade de voltar no meio do caminho, o medo que me deu de ser mais uma loucura insensata que eu sou expert em cometer, a insegurança, o pensamento de que eu era tão sem qualidades que não conseguiria fazer daquele primeiro contato uma coisa boa... Mas é, que vida louca e surpreendente, não?! O que eu posso dizer é que a rodoviária é hoje, encantada pra mim, o primeiro local do meu conto de fadas, que me trouxe um príncipe cheio de defeitos, apesar do seu cavalo branco ofuscar a todos. As incompatibilidades de estilo de vida são inúmeras, não nego. O grau de aceitação das famílias e amigos, não é suficiente ainda, não nego também. Mas se tem um trecho de música que nunca dedicarão a mim, será o da música do Cazuza, que diz: "Agora eu vou cantar pros miseráveis (...) Pra quem não sabe amar, fica esperando alguém que caiba no seu sonho..." Afinal, se com todos esses baques da vida, feitos e recebidos, eu não tivesse aprendido a amar ainda, é porque eu provavelmente nasci fada à burrice. O meu sonho é real, meu amor é real, o meu príncipe é real, tudo que nos aconteceu nesses meses tão intensos foi real, e se é assim, a certeza de um futuro promissor pra nós também é real na minha cabeça, no meu coração, e porque não dizer na minha alma, já que a intensidade de um amor tão grande assim me parece não caber simplesmente no meu corpo?

Pra concluir, sem intenções nenhuma de fornecer uma lição de auto-ajuda, quero dizer a quem me lê que não importa o tipo de fase que você está atravessando na sua saga neste momento, se é triste, se dói muito, se está morna, se você está esperando algo que não acontece nunca, ou se do contrário espera algo acabar, tudo é necessário, e fará todo o sentido do mundo depois, quando você puder compreender. Principalmente se tratando de vida afetiva, ô campinho complicado de se lidar. Se as pessoas viessem com manuais de instrução, seria bem mais cômodo, ou não; uma vez que somos seres humanos e preferimos na maioria das vezes o caminho mais difícil, quebrar a cara, e aquela coisa toda. E quer saber, pensa aí você, o que seria da vida sem isso?

sexta-feira, 5 de março de 2010

Tudo novo de novo





Primeira postagem, e eu me pergunto, o que é que eu vim fazer aqui mesmo? Principalmente depois de ler incessantemente blogs interessantíssimos de pessoas conhecidas pra me fazer desistir da idéia. Eu não sei o que eu pretendo ainda, mas me senti incomodada ultimamente, com uma vontade bem imensa de escrever, apesar de não saber como começar, o que dizer, por que dizer, como dizer, nem ao menos um tema eu tenho. Geralmente as pessoas optam por falar de si, visto a facilidade, e pra gerar eventuais encantamentos em outrem (porque grande parte do que dizem, é seu ideal de "quem sou eu", não o que são de verdade, fatão). Mas na boa? Odeio falar de mim, tenho uma dificuldade fora do comum. Prefiro me reconhecer em músicas, em filmes, em livros, numa frase, ou em outra pessoa. Agora, eu posso me reconhecer em mim mesma, olha que beleza! Ou não... Mas pulemos essa parte.

O ano que eu mais teria coisas a escrever/filosofar/repensar foi o de 2009. Um ano bem contraditório - no sentido de, ao mesmo tempo que eu ia pra frente em algumas questões, regredia em outras - e intenso. Exigiu muito de mim, inclusive e principalmente, coragem... Ah, sim, muita coragem, pra assumir a grande responsabilidade, de uma grande escolha, da qual sofro consequências até hoje. Eu sei que tá tudo um tanto quanto obscuro, tô querendo dizer um monte, sem dizer nada, mas assim é que é bom, ao menos angústia nos amigos que me lêem eu vou causar. Oi?

Pra fechar aqui, até porque pra quem não sabia como começar, até que eu já escrevi bastante, eu só quero poder escrever, escrever, escrever... Sem pretensões, sem esperar nada em troca, nem que alguém me procure no orkut ou msn pra dizer que gostou, até porque não tenho o dom da coisa. Entendido? Certo. Como diria Caio Fernando (sim, meu querido, minha querida, pode ir se acostumando com minhas citações do meu honradíssimo CFA, serão muitas, e não brinco), "(...)escrever é enfiar um dedo na garganta. Depois, claro, você peneira essa gosma, amolda-a, transforma. Pode sair até uma flor. Mas o momento decisivo é o dedo na garganta." É isso mesmo, não estou preocupada em que bicho (flor pra mim já é demais) vai dar isso aqui, mas o dedo já está mais que pronto. E tenho dito.